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Escrevendo o capítulo 2. -- Capítulo 16




Depois de acomodar todos os hospedes em casa, Alam sentou-se no chão da futura sala de leitura, novamente em meio às caixas; tinha conversado em particular com Adalberto e tentou convencer a ele que dormisse em seu quarto com a esposa, Alam dormiria ali na sala de leitura e Eliana no quarto de hospedes que também ainda não estava totalmente caracterizado, mas ao menos já tinha uma cama confortável e quente, porém, Adalberto recusou a proposta e ficou acertado que Alam dormiria em seu próprio quarto, Eliana no quarto de hospedes e o sr. e a sra. Ramos se acomodariam na sala mesmo. O rapaz aceitou a contragosto.

Em seguida o jovem ligou para as autoridades competentes e relatou o que tinha ocorrido na casa de seus amigos; um a um eles se revezaram no telefone passando informações e contando os fatos com riqueza de detalhes. Aquilo consumiu muito do tempo da noite e quando finalmente terminaram todo o relato, ficou acertado que todos os membros da família Ramos deveriam comparecer a unidade policial para cuidar de todas as formalidades pertinentes a um caso de invasão domiciliar e as outras coisas que acompanhavam aquilo; toda aquela história que parecia ser um enredo de um filme ou livro de ficção seria repassada incansavelmente.

Já era alta madrugada e logo o dia ia raiar, todos estavam intensamente cansados, sobretudo, o ex-mago; possuía uma excelente disciplina mental e conseguia impor sua força de vontade sobre o cansaço físico com muita facilidade, além disso tinha um preparo físico semelhante ao de um atleta de alto rendimento por dois motivos; primeiro porque quando fazia parte da ordem e tinha que lidar com pessoas não tão esclarecidas, segundo os padrões dos mestres do fogo, pessoas com as quais a probabilidade de uma simples conversa descambar para a violência individual era muito grande, ele tinha de estar preparado. Outro motivo para procurar manter-se sempre em forma era o preço pago pela manipulação da magia; tais práticas eram extenuante e pediam uma constituição física invejável, não no tocante a musculatura trabalhada ou definida, mas sim na questão da resistência.

Porém, mesmo com esse preparo físico e mental, o cansaço começava a incomodar; a briga com o carrasco fora algo impensável e muito difícil sob todos os aspectos.

Adalberto e Joana Ramos não conseguiram pregar os olhos durante aquele restante de madrugada, mas permaneceram deitados olhando para o teto da sala; Alam colocou à disposição deles algumas cobertas e almofadas, além de forrar o chão com vários edredons de modo a tentar reproduzir um colchão que fosse digno de seus hospedes, mas tudo era muito rústico. O Sr e a Sra Ramos conversaram algumas coisas, oraram, conversaram mais um pouco e depois foi só o silêncio.

Eliana foi à cozinha e bebeu um copo d’água, depois fez uma visita ao dono da casa que estava sentado no chão, quase perdido numa grande quantidade de caixas. Ele segurava um caderno e escrevia algo em uma das folhas.

_ O que está fazendo? Não vai dormir?

_ Agora não. Estou tentando pensar em algo.

Eliana afastou uma das caixas e sentou ao lado dele; em seguida perguntou:

_ Você costuma escrever?

_Costumava, mas isso faz bastante tempo.

_ Então o que está escrevendo aí?

Ele não sabia se aquela curiosidade infantil era algo espontâneo da parte dela ou se de alguma forma ela estava tentando ser mais natural do que realmente era, o fato era que Eliana parecia uma menina com aquela curiosidade e com um olhar brilhante fixado na face dele.

Alam estendeu-lhe o caderno para que ela o pegasse.

_O que você acha disso?_ ele disse.

No topo da folha estava escrito o seguinte título:

“O Despertar do mago”

E duas linhas abaixo se iniciava um texto que enchia três páginas.

_Parece que tem a ver com você._ ela respondeu.

Ambos sorriram e ele percebeu que aquela pessoa não era uma menina, muito pelo contrário, era uma mulher, talvez a mulher mais bela que ele conheceu.

_ Eu gosto muito de seus pais._falou.

_Eles também gostam muito de você.

_ Mas eu não entendo como uma pessoa pode ser assim como seu pai; quero dizer, como ele pode se doar tanto em meu favor sem me conhecer? E se eu for um assassino ou coisa do tipo?

Ela riu com um sorriso perfeito antes de falar.

_ Meu pai é assim, sempre foi. Um homem generoso, abnegado, bondoso e fervoroso, para ser sincera não conheço outro como ele; é a pessoa que mais admiro juntamente com minha mãe.

Ele balançou a cabeça negativamente.

_ Vocês vão ser recompensados por tudo, não vou deixar que percam coisa alguma por minha causa.

_ Já Fomos recompensados, meu pai costuma dizer que tem duas missões no mundo, uma é ser um pregador das verdades da bíblia e outra é ajudar as pessoas. Não há nada que o deixe mais feliz do que fazer estas duas coisas. Acredite já passamos por coisas piores antes.

Aquelas palavra fizeram Alam tremer por dentro, que tipo de coisas eles teriam passado, que tipo de vida tinham levado antes.

Eliana pareceu ler os pensamentos dele e deu uma pequena pista do que seria:

_ Sabe como é o Brasil; um país um tanto quanto difícil de se viver, principalmente para algumas classes sociais. Felizmente meu pai nunca perde a ética e nem a fé, o resto Deus é quem faz, hoje somos uma família abastada, mas já passamos por dificuldades financeiras; sabemos viver na fartura tanto quanto na escassez.

Alam pegou o caderno, pôs de lado repousando no chão, segurou a mão dela e disse:

_ Não quero que você entenda errado esse ato, mas vou lhe fazer uma promessa; no que depender de mim, nada vai acontecer de ruim com você nem com sua família. Amanhã vou começar a resolver tudo.

Ambos olhavam-se e olhavam para o chão em seguida até que finalmente ela retribuiu segurando a mão dele com força e também disse:

_ Também não quero que você entenda errado, mas...

Eliana se interrompeu e o beijou. O coração de Alam trovejou dentro do peito e ao mesmo tempo foi como se todas as suas forças de repente o abandonassem sem avisar; o beijo se estendeu mais do que ela imaginou porque ele retribuiu.

_ Desculpe. _Ele disse.

_ Não, eu é que devo desculpas_ ela falou; depois apontou para o caderno e perguntou:

_ Você tem um plano?

_ Não, mas vou procurar uma pessoa que certamente tem um.

Ficaram em silêncio, mas esse silêncio não era constrangedor e sim reconfortante; a simples presença de um ao lado do outro servia para inspirar esperança.

Finalmente Alam disse:

_ Vamos, você tem que dormir um pouco, o dia vai ser longo e vai chegar rápido.

Ela brincou antes de se levantar.

_ Sabe, você podia pegar isso aí que escreveu e fazer um livro. Quem sabe?

_ Vá dormir meu anjo, descanse o máximo que puder.

Eliana saiu em direção ao quarto e Alam escreveu mais um pouco nas folhas do caderno; a lembrança do beijo era como um filme repetindo constantemente em sua cabeça e a expectativa do dia que ia começar também permeava os pensamentos dele.

_ Vou precisar de ajuda Senhor._ disse sozinho._ Talvez eu precise de mais ajuda do que jamais precisei na minha vida; sei o que tenho que fazer; tenho que quebrar essa cadeia de comando que eu mesmo ajudei a instituir na cidade; tenho que fazer Donovam perder a autoridade.

No fundo e naquele momento Alam começou a ver as outras pessoas da ordem como pessoas que também precisavam de ajuda, homens e mulheres que estavam tão inebriados com o perfume misturado do poder político, o orgulho e a arrogância que nem conseguiam perceber suas reais posições. Pessoas que se julgavam ricas, inteligentes e sofisticadas, mas que na verdade estavam pobres, cegas e nuas; ou seja, tudo o que elas tinham era efêmero, mas elas só sabiam viver por tais coisas; para ter e para conseguir mais numa busca desenfreada que jamais terminaria. Quanto mais se tem mais se quer.

O próprio arauto também estivera inserido nesse contexto e sabia que se não tivesse caído da torre e passado por tudo aquilo que acontecera desde então até aquele momento; talvez nem ele mesmo tivesse esta noção e, portanto, não teria se libertado. Foi nesse momento que ele começou a ver mais claramente o que Eliana havia chamado de providência divina; A forma onisciente com a qual Deus governa todas as coisas. No fundo ele tinha a certeza de que uma missão havia sido direcionada para sua vida; pensou em quantas pessoas comuns que nem sequer desconfiavam da existência da ordem, mas que seriam escravizadas, oprimidas e prejudicadas se os planos de seu antigo mestre fossem a termo.

Agora estava diante de uma decisão; deveria escolher entre se colocar no caminho de seu antigo tutor e oferecer resistência até derrotá-lo ou podia se omitir, simplesmente procurando o mago espanhol e entregando toda a informação que sabia para que o outro derrotasse o Dragão do Norte.

Tomou sua decisão.

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