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Eliana. -- Capítulo 11




Ele estava sentado no gramado da casa dos Ramos, quando Eliana se aproximou furtivamente; a filha de Adalberto tinha acabado de chegar do Brasil, Rio de Janeiro, para onde o próprio Alam desejava voltar logo que resolvesse o que fazer da vida. Ela era uma mulher pouco mais nova que Alam, e para surpresa dele, era muito mais bonita do que imaginou.
_ Já ouvi você chegando, pode se mostrar._ falou o rapaz num tom baixo.
A moça se chegou e sentou ao lado dele, trazia uma xícara de chocolate quente nas mãos. Minutos antes quando ainda estavam dentro da casa onde estava sendo realizada uma pequena festividade de boas vindas com a presença dos amigos mais chegados da família; Alam e Eliana haviam trocado alguns olhares, mas como ele ainda sentia-se um tanto confuso resolveu sair da casa e sentou no quintal para admirar o princípio da noite.
_ Meu pai fala muito de você._ começou ela tentando puxar conversa._ Faz tempo que não o vejo assim.
Alam ficou um tanto encabulado e evitava olhar a jovem nos olhos, devia estar ficando mentalmente fraco, nunca tivera esse sentimento em toda a vida.
Eliana continuou:
_ Então você foi um bruxo?
Ele se assustou com a pergunta seca proferida pela jovem, mas mesmo assim respondeu tentando sair pela tangente:
_Eu era um Mago.
_ E qual é a diferença? _insistiu ela tentando prová-lo.
_ Já não sei mais.
_ Meu pai me contou sobre você e eu achei bastante interessante.
_ Seu pai salvou minha vida no rio e depois mostrou o DEUS que me resgatou da morte para a vida. Agora eu passo os dias tentando entender o que devo fazer e pensando em como vou me desvencilhar de certas coisas.
Ambos ficaram calados por alguns minutos, mas ao contrário do que podia ser, o silêncio não foi constrangedor e sim confortável.
_ Como está o Brasil? O Rio de Janeiro?_ agora era Alam quem tentava puxar conversa.
Eliana sorriu enquanto amarrava os cabelos negros.
_ O Rio é aquilo de sempre, uma cidade maravilhosa, mas que tem problemas gigantescos, e a vida vai tratando de encaminhar as coisas por lá; resolvi dar um tempo, mas vou voltar pra lá em breve. Meu pai já estava me chamando para passar uns dias aqui com ele faz um bom tempo e minha mãe estava quase indo me visitar mesmo, então aproveitei minhas férias e vim.
_ Faz tempo que não viajo, também pretendo voltar para o Rio.
Ambos riram.
Alam não acreditava, afinal sua vida corria perigo com Donovam e Phyros tramando algo contra ele, sem falar em Cortez tentando fazer de tudo aquilo uma forma de alcançar fama e mais prestígio; mas não conseguia pensar em mais nada que não fosse a face de Eliana a qual ele não tinha coragem de encarar frente a frente. Ele via no rosto dela uma beleza que tinha esquecido durante muito tempo e um sentimento adormecido desde que ele renunciara a vida para servir aos mestres do fogo ressurgiu com intensidade.
A noite estava fria como costumava ser e eles permaneceram sem falar nada por mais alguns segundos; ela não tirava os olhos dele, já ele esforçava-se para encarar a moça de frente, mas não conseguia, não queria dar o entendimento de que estava sentindo algo por ela e perceber que ela só estava sendo gentil por causa das coisas que ouviu o pai contar.
_ O que um mago de verdade faz?_ Ela perguntou num tom brincalhão.
_ Estuda.
_ O quê?_ insistiu.
_ Tudo._Ele respondeu com uma paciência que pensou que não tivesse, a verdade era que Alam nunca conversou abertamente com ninguém sobre seus estudos, antes de conhecer o pai de Eliana e não achou que fosse possível falar das antigas coisas com mais ninguém.
Eliana riu e continuou disparando suas perguntas:
_ Tudo o quê?
_ Cada qual estuda algo diferente, eu estudava o fogo, mas alguns estudam as águas, os ventos, a terra, a luz ou as sombras, são muitos elementos.
_ E quando o aprendizado acaba?
_Nunca; você continua estudando e evoluindo, até que seu tutor morra ou algo extraordinário aconteça que o leve a posição de mestre, do contrário será para sempre um aluno.
_ Não me parece uma grande carreira profissional._Eliana comentou.
_ E não é.
_ Mas e agora o que você pretende fazer?
_ Eu só tenho uma certeza na vida agora, e é que não quero nunca mais saber de nada disso; sinto-me tão livre como nunca antes, parece que um grande fardo foi tirado das minhas costas. Não vou trocar esta sensação nem por toda magia do mundo.
Eles pararam de falar por mais um tempo e finalmente Alam olhou bem para o rosto da moça, ele não percebeu mais seus olhos percorreram cada milímetro da face da bela jovem e Alam soube que estava se apaixonando por ela.
_Estou confundindo as coisas._ Pensou em voz alta.
Ela não entendeu, mas também não perguntou nada sobre aquela afirmação; limitou-se a continuar calada; agora ambos olhavam para o céu, sentados no gramado dos fundos.
Depois de um tempo em silêncio ele virou para ela e perguntou:
_ Em que lugar do Rio de Janeiro você mora?
_ Num município chamado Mesquita._ ela disse.
Alam sorriu um pouco antes de falar:
_ Ora! Baixada fluminense.
Eliana se retraiu; pensou que ele fosse fazer alguma piada de cunho social, mas ficou surpresa com o que ouviu.
_ Não acredito nisso! Eu realmente não acredito nisso!_ ele disse, concluindo_ Eu também morei lá há dez anos atrás.
Eliana parou por um momento e ponderou alguns fatos, ele disse algo que ela não escutou, e, finalmente perguntou para ele:
_ Sabe o que eu acho de tudo isso?
_ Não.
_Acho que você, eu, meu pai e tudo mais foi preparado por Deus de alguma forma, você não acha?
Ele meneou um pouco a cabeça da direita para a esquerda sem saber o que dizer.
_ Acho que tudo isso não passa de coincidência._ Ele disse.
_ “Qual é!”, Não existem coincidências, você não acha que é um pouco demais, nos dois termos saído do mesmo lugar para nos encontrarmos aqui; podíamos ter nos encontrado lá em Mesquita, mas não aconteceu. Sabe como eu chamo isso, providência, é assim que chamo.
_ A forma onisciente com a qual Deus, o Senhor, governa todas as coisas._ Alam balbuciou.
_ Pois é. _ Eliana finalmente se levantou; disse que estava ficando com fome e ia buscar algo para comer lá na festa, perguntou também se Alam gostaria de algo, mas ele recusou educadamente.
Com isso ela saiu e o jovem permaneceu lá parado pensando nas palavras de sua bela anfitriã, “A forma onisciente com a qual Deus, o Senhor, governa todas as coisas”; providência.
Além daquele pensamento outra coisa ficou martelando na mente dele, já era um fato, que uma pequena semente de amor tinha sido plantada no seu coração, certamente brotaria como uma flor de tulipa; e tal sentimento estava direcionado para a bela filha de Adalberto Ramos.
A noite prosseguiu e a festa também, o futuro ainda guardava muitas surpresas para aquele jovem, mas a partir daquela noite as coisas começaram a fazer um pouco mais de sentido.


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