"Ouvi, todos os povos, presta atenção, ó terra..." Miqueias 2.1a

"Ouvi, todos os povos, presta atenção, ó terra..." Miqueias 2.1a

A nossa posse mais preciosa não é o nosso tempo, mas sim a nossa atenção, porque é ela que controla o nosso tempo.

Eu sempre pensei que o tempo fosse o que nós, humanos e mortais, temos de mais importante, pois como a maioria absoluta das pessoas que vive sobre a face da terra, fui ensinado, desde a infância, a pensar que cada segundo desperdiçado jamais será recuperado, cada minuto jogado fora é uma fração da nossa própria vida que se vai para nunca mais voltar. Mas, por mais estranho que possa parecer, o cristianismo me fez ver as coisas de maneira completamente diferente, de modo que compreendi que, embora seja realmente verdade que o tempo não retrocede, e que portanto, cada milésimo que jogamos fora está perdido para sempre. Não é isso o que vai determinar se conseguiremos aproveitar bem a nossa existência aqui na terra. Em outras palavras, ao contrário do que diz o senso comum, o tempo não é o que temos de mais valioso.

Posso citar pelo menos três coisas mais valiosas do que o tempo; são elas: A fé, o amor, e a atenção; que é o tema deste texto. Na verdade, essas três coisas são até mesmo capazes de vencer o tempo.

A vida de uma pessoa não é medida pela quantidade de anos que ela passa sobre a face da terra, mas sim em como ela concentra sua atenção para usar, da melhor forma possível, o tempo que lhe foi concedido; ou seja, o desperdício de vida não ocorre quando permitimos que nossas horas diárias sejam furtadas ou roubadas de nós por agentes externos e internos; na verdade, começamos a desperdiçar nossa vida muito antes disso, quando consciente ou inconscientemente espalhamos nossa atenção aleatoriamente em todo tipo de inutilidades mentais, emocionais, espirituais, pessoais e profissionais, tanto materiais quanto virtuais. Ao estilhaçarmos nossa atenção todos os dias em diversos focos inúteis diferentes, abrimos todo tipo de brechas em nossa mente, coração e vida, para que os ladrões e roubadores de horas apareçam e façam o seu trabalho pernicioso.

Para ser mais específico deixe-me dar um exemplo simples:

Uma pessoa não está desperdiçando a vida quando perde horas e mais horas do seu dia navegando nas redes sociais, vendo fotos da "vida perfeita" e das "vitórias sociais" dos amigos, ou debatendo sobre política e religião, ou deixando-se alimentar com informações que não edificam. Na verdade, essas pessoas começaram a desperdiçar a vida no momento em que permitiram que a atenção deles fosse carregada e se prendesse a tais inutilidades. Da mesma forma, um indivíduo não desperdiça a vida quando gasta duas horas por dia no trânsito indo e vindo do trabalho; tal indivíduo desperdiça a vida quando não coloca a sua atenção em algo produtivo durante aquelas horas. Toda vez que permitimos que nossa atenção seja levada cativa aleatoriamente ou a colocamos em algo inútil, estamos voluntariamente sacrificando uma parte de nossa própria existência, pois ao apegarmos nossa atenção a algo desnecessário, inútil e sem sentido (seja lá o que for); tais coisas vão devorar um pouco das nossas forças física, mental e espiritual.

Uma pessoa que coloca sua atenção nas bebidas, na gula, nas drogas, no consumismo, no dinheiro, na vida alheia, na política, e em muitas outras coisas nocivamente semelhantes a essas, está fadado a viver bem menos do que alguém cuja atenção está posta em coisas mais saudáveis e edificantes.

De fato, uma pessoa pode passar cem anos aqui na terra e ainda assim, nunca ter vivido de forma verdadeira, por nunca ter colocado sua atenção nas coisas que realmente importam, mas ter fragmentado sua atenção com todo tipo de futilidades, banalidades, vaidades; ou focalizado sua atenção apenas nas próprias paixões, ambições, ganâncias e muitas outras coisas que servem apenas para distrair a mente e a alma de qualquer indivíduo daquilo que realmente é relevante e importante. Muitos passam a vida distraídos em sua busca particular pelo sucesso e pelas riquezas; outros estão constantemente inebriados pelo desejo de ostentar um status social elevado (impressionar os outros); alguns estão todo o tempo com os pensamentos e forças divagando em busca da fama; há os que estão correndo cegamente atrás de sonhos que nem são deles, e assim por diante, todos eles, mesmo que vivam cem anos, estão desperdiçando suas vidas porque se recusam a colocar a atenção em algo mais reto, firme, e sólido.

Por outro lado, alguém pode viver menos, ou muito menos, de cem anos e, ainda assim, conseguir ter uma vida extremamente significativa, produtiva, frutífera e plena em todos os aspectos, simplesmente porque, pelo tempo que lhe foi concedido, não permitiu, ou permitiu menos, que sua atenção fosse estilhaçada ao acaso ou repousasse sobre banalidades pessoais ou sociais. Enquanto milhões de pessoas sempre viveram ou estão vivendo uma existência longa e estéril (embora estejam o tempo todo tentando fingir que são produtivos), algumas pessoas viveram por menos tempo e conseguiram deixar uma marca positiva na terra, e até escreveram seu nome na história da humanidade, cada qual em seu campo de atuação. Eis alguns exemplos:

*Bruce Lee viveu por apenas 31 anos, mas este pouco tempo foi mais do que o suficiente para que ele se torna-se o maior artista marcial de todos os tempos.

* Wolfgang Amadeus Mozart viveu apenas por 35 anos e mesmo assim é considerado até os dias atuais como o maior prodígio que a música clássica já produziu na história da humanidade.

* Martin Luther King Jr. viveu por apenas 39 anos e mesmo assim foi usado por Deus para deixar uma gigantesca contribuição e um legado que ajudou a transformar sua nação.

* Martinho Lutero viveu só 62 anos e reformou completamente a compreensão que as pessoas de sua época tinham a respeito da verdadeira igreja de Cristo.

Os exemplos são muitos e é claro que todas estas pessoas teriam ido muito além se pudessem ter mais tempo sobre a face da terra, mas o fato é que eles compreenderam que não é o tempo o que determina a vida de uma pessoa, mas sim as coisas nas quais tais pessoa coloca a sua atenção. Qualquer um que coloque a atenção nos lugares corretos para a sua vida, conseguirá ter uma vida extremamente bem sucedida, mesmo que não seja capaz de completar um século de existência.

Note, entretanto, que não estou fazendo qualquer defesa ou dizendo que é melhor viver menos tempo, muito pelo contrário, eu realmente acredito que é melhor viver o máximo de anos que nos for permitido, até porque Deus promete nos dar abundância de dias, como está escrito em Salmos 91.16a, que diz: "Dar-lhe-ei abundância de dias...". O que estou dizendo aqui é que de nada adiantará ter abundância de dias se não concentrarmos nossa atenção de maneira a aproveitar cada um destes dias de forma adequada e produtiva para nós mesmos, para nossa família, para nossa comunidade, e para o nosso Deus.

Há uma frase atribuída ao físico Albert Einstein, que diz mais ou menos o seguinte: "O tempo nada mais é do que uma ilusão teimosamente persistente.". As pessoas na sociedade mundana e dentro de congregações costumam ser ludibriadas por essa ilusão e passam a pensar que é o tempo que rege a nossa vida, dessa forma tornam-se escravos sociais do tempo; mas os sábios compreendem que ao concentrar a atenção naquilo que está ligado a quem realmente são e na missão que devem desempenhar na vida, libertam-se da tirania social do tempo e passam a controlá-lo. Eles se tornam mestres do próprio tempo.

É compreensível que nossa mente natural, infantil e temporal, considere o tempo como nossa riqueza mais valiosa, porém, conforme nos aprofundamos nas coisas do Espírito, amadurecemos espiritualmente, e gradativamente libertamos nossa mente do controle da nossa natureza temporal; adotando, cada vez mais, a nova natureza atemporal de Cristo. Assim percebemos que, embora o tempo seja uma barreira para a nossa existência física, não chega nem perto de ser uma barreira para nossa mente transformada, nem para a nossa fé, tampouco para nossas obras.

O tempo está sempre ao lado daqueles cuja atenção é bem concentrada no que realmente é importante. Por este motivo:

Preste mais atenção nas "pequenas" alegrias da vida.

Preste mais atenção nas dádivas que Deus colocou ao seu redor.

Preste mais atenção na sua saúde física, mental e espiritual.

Preste mais atenção nas pessoas que você ama e que amam você.

Preste mais atenção no silêncio dos sábios.

Como foi escrito em Filipenses 4.8: "...Irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, se há algum louvor, nisso pensai.".

Portanto:

Preste menos atenção nos pensamentos dos outros

Preste menos atenção na vida dos outros

Preste menos atenção nas banalidades sociais.

Preste menos atenção nas coisas que chateiam você.

Preste menos atenção nas infantilidades virtuais.

Preste menos atenção nos falatórios e contendas dos tolos.

A maneira como controlamos ou permitimos que controlem nossa atenção é o ponto crucial e definitivo que determinará se investiremos bem ou desperdiçaremos nossa vida a cada dia. Eis um dos motivos pelos quais o espírito do mundo usa tantas distrações em absolutamente todos os lugares físicos e virtuais que nos rodeiam e se esforça tanto para que as pessoas se percam entre elas. Uma pessoa distraída é uma pessoa fraca; uma pessoa fraca é uma pessoa perdida; e uma pessoa perdida é uma presa fácil para todas as insanidades do espírito do mundo.

Se queremos experimentar uma existência verdadeiramente agradável a Deus e a nós, não é com o tempo que temos que nos preocupar; como Mateus 6.34 nos mostra ao dizer: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo". O que devemos aprender a fazer é proteger a todo custo a nossa atenção, colocando-á onde o Espírito de Deus nos inclinar.

O escritor, palestrante e treinador de líderes cristãos John C. Maxwell escreve em um de seus livros que mais importante e mais eficiente do que organizar o seu tempo é organizar a sua vida. Ou seja; o tempo vai passar de qualquer jeito; mas a grande questão é: Como nós vamos controlar nossa atenção para organizar e aproveitar adequadamente e em alto nível os anos que tivermos a nossa disposição?