Devon Clarky retornou ao prédio da
Engineering firm of Ontário com muita pressa, havia tentado ligar várias vezes
para o presidente da empresa, mas Donovam não atendia aos telefonemas. Rumou
para o andar da diretoria, passou pelos corredores onde ficavam localizadas as
salas de outros diretores, foi à sala do conselho dirigente, abriu a porta, mas
Draek não estava lá. Voltou procurando sala por sala, falando com todos que
estavam no andar a fim de encontrar o outro, mas só conseguia informações
desencontradas.
_Ele deve estar na sala dele._ diziam uns.
_ Passou por aqui ainda pouco._ Afirmavam
outros.
_ Deve estar em reunião._ Justificava a
secretária particular dele.
Mas Devon sabia que ele não estava em
reunião alguma, porque caso houvesse uma reunião também ele participaria, ora!
Era o segundo maior executivo da firma.
Voltou para o elevador e começou a busca
de andar em andar, sempre com o telefone nas mãos e tentando também a conexão
via rádio, mas ele não respondia, devia ter saído sem o aparelho.
Devon tinha ido até o endereço indicado
por Draek e encontrado Phyros, mas algo muito ruim para o andamento dos planos
tinha acontecido, precisava avisar ao mago para que ele não tomasse nenhuma
posição ou desse qualquer passo sem saber das condições em que um de seus
trunfos se encontrava.
Novamente tomou o elevador e foi até o
último andar; o andar da presidência, onde a sala pessoal do Dragão do norte
ficava isolada de todas as outras e cercada por bibliotecas e até mesmo por uma
adega contendo vinhos em grande quantidade.
Para todas as pessoas que encontrava nos
corredores e nas salas, para cada gerente de equipe e coordenadores Devon
passava a seguinte instrução:
_ Procurem Donovam e digam a ele que
precisamos conversar urgentemente!
O tom com o qual ele passava aquela
mensagem afetou alguns funcionários da firma, pensaram que se tratava de algum
contrato grande que não tinham conseguido fechar ou alguns dos clientes de peso
tinha resolvido abrir mão dos serviços da firma. Clarky estava por demais
alterado.
Embora não fosse um homem geralmente
comedido, também não era do seu perfil se mostrar tão perturbado quanto estava
naquele momento. Deixou recado na caixa postal, enviou, e-mail fez praticamente
tudo o que pôde, mas nada de Donovam; finalmente uma idéia passou por sua
cabeça.
Voltou até a sala da presidência, entrou e
caminhou pela sala que era grande e foi em direção a mesa, tentou abrir algumas
gavetas no móvel, mas estavam todas fechadas; sentou-se na cadeira do sócio e
tentou saber onde ele poderia ter ido sem deixar vestígios.
_ Preciso encontrar ele. _ disse baixo.
Olhou ao redor, em uma das paredes havia
uma série de fotos emolduradas, todas mostravam Donovam em lugares diferentes
do mundo, em suas viagens de negócios e sempre acompanhado de alguém famoso ou
de posição. Devon passou os olhos foto por foto, eram paisagens de cidades como
Paris, Cairo, Nápoles, Moscou, Brasília, Kiev, Pequim, Edimburgo e muitas
outras, mas uma delas o chamou a atenção. Tratava-se de um paisagem na própria
cidade de Ottawa, uma espécie de castelo vermelho com uma enorme torre de mesma
cor ao fundo.
Clarky sabia onde ficava aquele lugar e
também sabia que era um lugar onde Donovam costumava se encontrar com outros
membros da irmandade; puxou pela memória para lembrar do nome do lugar, o nome
estava na ponta da língua, mas demorou um pouco até lembrar.
_ Castelo das chamas, ou fortaleza do
fogo._ estava quase lembrando.
Finalmente a palavra veio de uma vez e
saiu pelos lábios dele numa única frase:
_ Casa das Labaredas._ Disse se levantando
rápido.
Estava decidido, ia até a tal casa das
labaredas e procuraria por Donovam lá, tinha uma informação que não podia
esperar para ser entregue.
Desceu novamente sem falar com ninguém,
foi até o estacionamento, pegou o carro e saiu.
***
Alguns momentos mais tarde estava parando
o automóvel próximo do lugar, o magnífico castelo vermelho; percebeu que a
construção era muito maior do que ele se lembrava, e não perdeu tempo, caminhou
passando pelos portões da frente; todo o lugar era grandioso, logo numa espécie
de saguão principal duas estátuas enormes ladeavam o portal de entrada, tais
estátuas pareciam estar, com uma das mãos, segurando o teto que se erguia a
cerda de dez metros do chão e com a outra mão aberta à frente do corpo mantinha
luzes em forma de chamas acesas num belo arranjo de iluminação moderna. Era uma
peça incrível, a obra de arte servia ao mesmo tempo como coluna e como
luminária.
Muitas pessoas passavam para um lado e
para outro e Clarky não tinha a menor idéia de como encontraria o Dragão. De
repente foi abordado por dois homens, pareciam seguranças.
_ Olá senhor _disse um deles_ Esta é uma
propriedade particular, o senhor não pode ficar aqui.
Quem seriam aqueles homens? Seriam magos
também? Ele não sabia, mas tentou cumprir sua missão.
Falou:
_ Estou procurando Donovam Draek, sou
sócio dele e tenho informações importantes que devem ser entregues
imediatamente.
_ Sinto muito! Não conheço essa pessoa._
disse o suposto segurança.
O outro lançou mão do braço de Devon e
segurando firme já ia conduzi-lo para fora. Quando ele disse:
_ Tenho informações sobre o carrasco;
Phyros e sobre o arauto. É muito importante.
Os homens olharam entre si e um deles
respondeu.
_ Quem lhe disse estes nomes?
A resposta foi:
_ O dragão do norte. _ Devon quis
impressioná-los e aparentemente tinha conseguido.
_ Aguarde um momento. _ um segurança saiu
andando pelo lugar, entrou por uma outra grande porta no fundo do saguão
enquanto o outro mantinha os olhos em Clarky. Alguns momentos depois o
segurança voltou.
_ Acompanhe-me, por favor.
Ambos foram pelo caminho antes trilhado
pelo segurança, passaram pela porta, andaram por alguns corredores e entraram
num elevador de portas em bronze, todo o lugar era por demais luxuoso, com
tapetes e carpetes no chão, quadros e pinturas adornando as paredes dos
corredores, muitas portas fechadas e em certos lugares haviam palavras
estranhas escritas nas paredes de um modo artístico que combinava com a
decoração do local.
Passaram por um umbral em forma de arco e
chegaram finalmente em uma sala muito bem mobiliada onde haviam poltronas
confortáveis dispostas em formato circular, cada poltrona tinha a seu lado uma
pequena mesa confeccionada em acrílico transparente e sobre cada mesa um livro.
_ Aguarde aqui, por favor. _Disse o
segurança e deixou o lugar.
Devon não pensou duas vezes, deu uma boa
olhada ao redor, o lugar não possuía janelas e o formato da sala era oval com o
teto em abobada, quatro pilares brotavam do chão em lugares distintos e subiam
até o teto onde finalmente se tocavam; era realmente magnífico.
Devon pensou em quanto dinheiro havia sido
gasto na construção daquele castelo; algumas salas lembravam uma espécie de
catedral, e aquela era uma delas.
Havia um quadro na parede retratando cinco
homens, ferreiros, com os corpos desnudos até na cintura trabalhando com
martelos, bigornas e metais aquecidos no que parecia ser uma ferraria da idade
média; um sexto homem envolto numa túnica alaranjada, trazia uma coroa de
louros presa à cabeça, e uma aura dourada e luminosa emanava dela.
Uma voz surgiu entrando pela porta:
Este quadro se chama “A Oficina de
Vulcano”, e foi pintado por Diego Velázquez.
Devon se virou e um indivíduo trajando
tenro escuro estava parado na porta com um sorriso estampado no rosto. Um homem
de meia idade, com uma postura extremamente ereta, gel nos cabelos grisalhos
penteados para trás, semblante frio e um olhar ferino.
Devon não respondeu; se limitou a olhar
para as paredes da sala onde estava.
O outro percebeu e disse:
_ O projeto de todo o castelo é assinado
pelo seu sócio.
Fez uma pausa controlada e em seguida
falou:
_Tenha a bondade de sentar-se._ disse o
homem e em seguida se identificou._ Me chamo Félix Anastazopoulos de Santorini,
sou o responsável por manter as coisas em ordem aqui; fui informado de que você
tem informações importantes que deve entregar a Donovam. Não está certo?
O outro moveu a cabeça levemente e
concordando.
Santorini sentou na cadeira ao lado
daquela onde estava Devon; apoiou o braço no encosto da poltrona e colocou o
dedo indicador sob o queixo.
_ Infelizmente Donovam não está aqui.
Estou à procura dele também.
Devon estava nervoso por não saber com
quem estava tratando; estava receoso de falar mais do que devia.
O olhar de Santorini era frio e
penetrante, parecia estar querendo ver o que Clarky escondia dentro da mente.
Ele se recostou tranqüilamente e inclinando a cabeça para o lado perguntou:
_ Você conhece Juan Cortez?
Devon estremeceu.
O outro continuou gélido como um “iceberg”.
_ Tenho fortes motivos para acreditar que
Donovam Draek e o antigo tutor dele, um de nossos mestres, tentaram contra a
vida de Cortez. Você não saberia nada sobre isso, saberia?
_ Vesúvio? _ perguntou Devon.
_ Então você conhece Vesúvio.
Era o bastante; outro homem entrou na sala
e este Devon conhecia, tinha espionado ele durante um tempo até que Vesúvio o
envenenou, mas não entendia como ele podia estar ali são e salvo. Devia estar
morto.
Juan Cortez respirando vingança contra
todos que participaram da conspiração para lhe roubar a vida sentou-se em outra
poltrona próxima.
_ Você estava lá no hotel quando eu fui
envenenado, agora é hora de acertarmos as contas.
Santorini disse:
_A polícia já está vindo para cá, você
será acusado formalmente por ajudar na conspiração para tentar matar um homem.
Tentativa de homicídio.
Os magos não estavam interessados em fazer
o bem ou praticar justiça alguma, mas não deixariam uma pessoa que nem era
membro da ordem, sair ilesa por se intrometer em negócios que não lhe diziam
respeito.
Devon tentou argumentar, dizendo que tudo
aquilo tinha sido a mando de Donovam, mas não foi o suficiente; logo os
seguranças que o abordaram no salão de entrada, surgiram pela porta e ali
ficaram até que a polícia chegasse para levá-lo sob custódia. Ele tentou de
tudo, tentou apelar para sua posição na empresa, tentou oferecer dinheiro e até
dedurar os planos do sócio. Nada adiantou. Devon só sairia da casa das
Labaredas devidamente preso.
_ Se eu for preso, vou dizer toda a
verdade para as autoridades_ ele tentava um último ataque para se salvar_ Vou
dizer que dentro desse lugar funciona uma irmandade de magia e direi tudo o que
sei sobre vocês.
Os outros dois riram; Cortez iniciou:
_ Aconselho que você não faça isso, para
seu próprio bem; primeiro porque quem vai acreditar nisso? E mesmo que
acreditassem, estudar magia não é ilegal. E segundo; Phyros não é a única
pessoa encarregada de eliminar fios soltos.
Santorini entrou falando também:
_ Donovam não liga para você; um conselho
que lhe dou. Aceite o que a justiça lhe impor e nunca mais se meta conosco, magia
é para poucos, ou não teremos tanta misericórdia da próxima vez; não
esqueceremos de você e estaremos sempre de olho.
Antes que os policiais viessem buscá-lo,
Devon ainda ficou sabendo pelas palavras de Santorini e Cortez que Vesúvio
também foi desmascarado, enfrentaria a ira dos outros mestres dos círculos
internos e certamente a punição seria exemplar; infelizmente para Vesúvio e
Donovam, o mago espanhol não morreu e agora estava acusando-os. Não deixaria
aquele insulto passar barato e ainda aproveitaria para fazer o máximo de
barulho possível, divulgaria a artimanha baixa que os magos da casa do Dragão
do Norte tinham arquitetado para eliminar a oposição que era sustentada por
Cortez.
Sem dúvida, a divulgação de tais
informações e a ventilação das mesmas pelos corredores da casa das labaredas
teria um efeito devastador para as pretensões de quem era adepto da unificação;
por outro lado, os que não compactuavam com tal filosofia começariam a se
sentir mais fortalecidos vendo na pessoa do espanhol, o ícone que desejavam
para confrontar e vencer aquela política monárquica.
Por fim, tanto Santorini quanto Juan
interrogaram Devon por mais alguns minutos, queriam extrair o máximo de
informações possíveis, mas acabaram percebendo que ele sabia pouquíssimo sobre
os reais planos de Donovam. Notaram que aquele homem nada mais era do que uma
marionete, um peão no tabuleiro; manipulado pela vontade daquele que o
comandava. Não conseguiram quase nada de valor com aquele indivíduo. Quase
nada, exceto uma coisa.
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