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Casa das labaredas. -- Capítulo 20




Devon Clarky retornou ao prédio da Engineering firm of Ontário com muita pressa, havia tentado ligar várias vezes para o presidente da empresa, mas Donovam não atendia aos telefonemas. Rumou para o andar da diretoria, passou pelos corredores onde ficavam localizadas as salas de outros diretores, foi à sala do conselho dirigente, abriu a porta, mas Draek não estava lá. Voltou procurando sala por sala, falando com todos que estavam no andar a fim de encontrar o outro, mas só conseguia informações desencontradas.

_Ele deve estar na sala dele._ diziam uns.

_ Passou por aqui ainda pouco._ Afirmavam outros.

_ Deve estar em reunião._ Justificava a secretária particular dele.

Mas Devon sabia que ele não estava em reunião alguma, porque caso houvesse uma reunião também ele participaria, ora! Era o segundo maior executivo da firma.

Voltou para o elevador e começou a busca de andar em andar, sempre com o telefone nas mãos e tentando também a conexão via rádio, mas ele não respondia, devia ter saído sem o aparelho.

Devon tinha ido até o endereço indicado por Draek e encontrado Phyros, mas algo muito ruim para o andamento dos planos tinha acontecido, precisava avisar ao mago para que ele não tomasse nenhuma posição ou desse qualquer passo sem saber das condições em que um de seus trunfos se encontrava.

Novamente tomou o elevador e foi até o último andar; o andar da presidência, onde a sala pessoal do Dragão do norte ficava isolada de todas as outras e cercada por bibliotecas e até mesmo por uma adega contendo vinhos em grande quantidade.

Para todas as pessoas que encontrava nos corredores e nas salas, para cada gerente de equipe e coordenadores Devon passava a seguinte instrução:

_ Procurem Donovam e digam a ele que precisamos conversar urgentemente!

O tom com o qual ele passava aquela mensagem afetou alguns funcionários da firma, pensaram que se tratava de algum contrato grande que não tinham conseguido fechar ou alguns dos clientes de peso tinha resolvido abrir mão dos serviços da firma. Clarky estava por demais alterado.

Embora não fosse um homem geralmente comedido, também não era do seu perfil se mostrar tão perturbado quanto estava naquele momento. Deixou recado na caixa postal, enviou, e-mail fez praticamente tudo o que pôde, mas nada de Donovam; finalmente uma idéia passou por sua cabeça.

Voltou até a sala da presidência, entrou e caminhou pela sala que era grande e foi em direção a mesa, tentou abrir algumas gavetas no móvel, mas estavam todas fechadas; sentou-se na cadeira do sócio e tentou saber onde ele poderia ter ido sem deixar vestígios.

_ Preciso encontrar ele. _ disse baixo.

Olhou ao redor, em uma das paredes havia uma série de fotos emolduradas, todas mostravam Donovam em lugares diferentes do mundo, em suas viagens de negócios e sempre acompanhado de alguém famoso ou de posição. Devon passou os olhos foto por foto, eram paisagens de cidades como Paris, Cairo, Nápoles, Moscou, Brasília, Kiev, Pequim, Edimburgo e muitas outras, mas uma delas o chamou a atenção. Tratava-se de um paisagem na própria cidade de Ottawa, uma espécie de castelo vermelho com uma enorme torre de mesma cor ao fundo.

Clarky sabia onde ficava aquele lugar e também sabia que era um lugar onde Donovam costumava se encontrar com outros membros da irmandade; puxou pela memória para lembrar do nome do lugar, o nome estava na ponta da língua, mas demorou um pouco até lembrar.

_ Castelo das chamas, ou fortaleza do fogo._ estava quase lembrando.

Finalmente a palavra veio de uma vez e saiu pelos lábios dele numa única frase:

_ Casa das Labaredas._ Disse se levantando rápido.

Estava decidido, ia até a tal casa das labaredas e procuraria por Donovam lá, tinha uma informação que não podia esperar para ser entregue.

Desceu novamente sem falar com ninguém, foi até o estacionamento, pegou o carro e saiu.

***

Alguns momentos mais tarde estava parando o automóvel próximo do lugar, o magnífico castelo vermelho; percebeu que a construção era muito maior do que ele se lembrava, e não perdeu tempo, caminhou passando pelos portões da frente; todo o lugar era grandioso, logo numa espécie de saguão principal duas estátuas enormes ladeavam o portal de entrada, tais estátuas pareciam estar, com uma das mãos, segurando o teto que se erguia a cerda de dez metros do chão e com a outra mão aberta à frente do corpo mantinha luzes em forma de chamas acesas num belo arranjo de iluminação moderna. Era uma peça incrível, a obra de arte servia ao mesmo tempo como coluna e como luminária.

Muitas pessoas passavam para um lado e para outro e Clarky não tinha a menor idéia de como encontraria o Dragão. De repente foi abordado por dois homens, pareciam seguranças.

_ Olá senhor _disse um deles_ Esta é uma propriedade particular, o senhor não pode ficar aqui.

Quem seriam aqueles homens? Seriam magos também? Ele não sabia, mas tentou cumprir sua missão.

Falou:

_ Estou procurando Donovam Draek, sou sócio dele e tenho informações importantes que devem ser entregues imediatamente.

_ Sinto muito! Não conheço essa pessoa._ disse o suposto segurança.

O outro lançou mão do braço de Devon e segurando firme já ia conduzi-lo para fora. Quando ele disse:

_ Tenho informações sobre o carrasco; Phyros e sobre o arauto. É muito importante.

Os homens olharam entre si e um deles respondeu.

_ Quem lhe disse estes nomes?

A resposta foi:

_ O dragão do norte. _ Devon quis impressioná-los e aparentemente tinha conseguido.

_ Aguarde um momento. _ um segurança saiu andando pelo lugar, entrou por uma outra grande porta no fundo do saguão enquanto o outro mantinha os olhos em Clarky. Alguns momentos depois o segurança voltou.

_ Acompanhe-me, por favor.

Ambos foram pelo caminho antes trilhado pelo segurança, passaram pela porta, andaram por alguns corredores e entraram num elevador de portas em bronze, todo o lugar era por demais luxuoso, com tapetes e carpetes no chão, quadros e pinturas adornando as paredes dos corredores, muitas portas fechadas e em certos lugares haviam palavras estranhas escritas nas paredes de um modo artístico que combinava com a decoração do local.

Passaram por um umbral em forma de arco e chegaram finalmente em uma sala muito bem mobiliada onde haviam poltronas confortáveis dispostas em formato circular, cada poltrona tinha a seu lado uma pequena mesa confeccionada em acrílico transparente e sobre cada mesa um livro.

_ Aguarde aqui, por favor. _Disse o segurança e deixou o lugar.

Devon não pensou duas vezes, deu uma boa olhada ao redor, o lugar não possuía janelas e o formato da sala era oval com o teto em abobada, quatro pilares brotavam do chão em lugares distintos e subiam até o teto onde finalmente se tocavam; era realmente magnífico.

Devon pensou em quanto dinheiro havia sido gasto na construção daquele castelo; algumas salas lembravam uma espécie de catedral, e aquela era uma delas.

Havia um quadro na parede retratando cinco homens, ferreiros, com os corpos desnudos até na cintura trabalhando com martelos, bigornas e metais aquecidos no que parecia ser uma ferraria da idade média; um sexto homem envolto numa túnica alaranjada, trazia uma coroa de louros presa à cabeça, e uma aura dourada e luminosa emanava dela.

Uma voz surgiu entrando pela porta:

Este quadro se chama “A Oficina de Vulcano”, e foi pintado por Diego Velázquez.

Devon se virou e um indivíduo trajando tenro escuro estava parado na porta com um sorriso estampado no rosto. Um homem de meia idade, com uma postura extremamente ereta, gel nos cabelos grisalhos penteados para trás, semblante frio e um olhar ferino.

Devon não respondeu; se limitou a olhar para as paredes da sala onde estava.

O outro percebeu e disse:

_ O projeto de todo o castelo é assinado pelo seu sócio.

Fez uma pausa controlada e em seguida falou:

_Tenha a bondade de sentar-se._ disse o homem e em seguida se identificou._ Me chamo Félix Anastazopoulos de Santorini, sou o responsável por manter as coisas em ordem aqui; fui informado de que você tem informações importantes que deve entregar a Donovam. Não está certo?

O outro moveu a cabeça levemente e concordando.

Santorini sentou na cadeira ao lado daquela onde estava Devon; apoiou o braço no encosto da poltrona e colocou o dedo indicador sob o queixo.

_ Infelizmente Donovam não está aqui. Estou à procura dele também.

Devon estava nervoso por não saber com quem estava tratando; estava receoso de falar mais do que devia.

O olhar de Santorini era frio e penetrante, parecia estar querendo ver o que Clarky escondia dentro da mente. Ele se recostou tranqüilamente e inclinando a cabeça para o lado perguntou:

_ Você conhece Juan Cortez?

Devon estremeceu.

O outro continuou gélido como um “iceberg”.

_ Tenho fortes motivos para acreditar que Donovam Draek e o antigo tutor dele, um de nossos mestres, tentaram contra a vida de Cortez. Você não saberia nada sobre isso, saberia?

_ Vesúvio? _ perguntou Devon.

_ Então você conhece Vesúvio.

Era o bastante; outro homem entrou na sala e este Devon conhecia, tinha espionado ele durante um tempo até que Vesúvio o envenenou, mas não entendia como ele podia estar ali são e salvo. Devia estar morto.

Juan Cortez respirando vingança contra todos que participaram da conspiração para lhe roubar a vida sentou-se em outra poltrona próxima.

_ Você estava lá no hotel quando eu fui envenenado, agora é hora de acertarmos as contas.

Santorini disse:

_A polícia já está vindo para cá, você será acusado formalmente por ajudar na conspiração para tentar matar um homem. Tentativa de homicídio.

Os magos não estavam interessados em fazer o bem ou praticar justiça alguma, mas não deixariam uma pessoa que nem era membro da ordem, sair ilesa por se intrometer em negócios que não lhe diziam respeito.

Devon tentou argumentar, dizendo que tudo aquilo tinha sido a mando de Donovam, mas não foi o suficiente; logo os seguranças que o abordaram no salão de entrada, surgiram pela porta e ali ficaram até que a polícia chegasse para levá-lo sob custódia. Ele tentou de tudo, tentou apelar para sua posição na empresa, tentou oferecer dinheiro e até dedurar os planos do sócio. Nada adiantou. Devon só sairia da casa das Labaredas devidamente preso.

_ Se eu for preso, vou dizer toda a verdade para as autoridades_ ele tentava um último ataque para se salvar_ Vou dizer que dentro desse lugar funciona uma irmandade de magia e direi tudo o que sei sobre vocês.

Os outros dois riram; Cortez iniciou:

_ Aconselho que você não faça isso, para seu próprio bem; primeiro porque quem vai acreditar nisso? E mesmo que acreditassem, estudar magia não é ilegal. E segundo; Phyros não é a única pessoa encarregada de eliminar fios soltos.

Santorini entrou falando também:

_ Donovam não liga para você; um conselho que lhe dou. Aceite o que a justiça lhe impor e nunca mais se meta conosco, magia é para poucos, ou não teremos tanta misericórdia da próxima vez; não esqueceremos de você e estaremos sempre de olho.

Antes que os policiais viessem buscá-lo, Devon ainda ficou sabendo pelas palavras de Santorini e Cortez que Vesúvio também foi desmascarado, enfrentaria a ira dos outros mestres dos círculos internos e certamente a punição seria exemplar; infelizmente para Vesúvio e Donovam, o mago espanhol não morreu e agora estava acusando-os. Não deixaria aquele insulto passar barato e ainda aproveitaria para fazer o máximo de barulho possível, divulgaria a artimanha baixa que os magos da casa do Dragão do Norte tinham arquitetado para eliminar a oposição que era sustentada por Cortez.

Sem dúvida, a divulgação de tais informações e a ventilação das mesmas pelos corredores da casa das labaredas teria um efeito devastador para as pretensões de quem era adepto da unificação; por outro lado, os que não compactuavam com tal filosofia começariam a se sentir mais fortalecidos vendo na pessoa do espanhol, o ícone que desejavam para confrontar e vencer aquela política monárquica.

Por fim, tanto Santorini quanto Juan interrogaram Devon por mais alguns minutos, queriam extrair o máximo de informações possíveis, mas acabaram percebendo que ele sabia pouquíssimo sobre os reais planos de Donovam. Notaram que aquele homem nada mais era do que uma marionete, um peão no tabuleiro; manipulado pela vontade daquele que o comandava. Não conseguiram quase nada de valor com aquele indivíduo. Quase nada, exceto uma coisa.


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